Como uma chuva de ouro
no ar, parada
Na fronde dos ipês, no
fervedouro
Desse amarelo e
mágico tesouro,
Vejo a Pátria pairar,
simbolizada:
É aqui tão fácil
encontrarmos ouro,
Que o acharemos nas árvores da estrada,
E a quem quiser essa riqueza é dada,
E o que é nosso e de todos logradouro.
Martins Fontes
Há um ano resolvi criar nosso blog com intuito de mostrar minhas primeiras produções, muito por incentivo dos meus amigos pois nunca achei ( e ainda não acho) que tivesse talento suficiente a ponto de expor e aceitar encomendas.
E a maior dúvida era quanto ao nome do blog. Muitas sugestões recebi, várias ideias tive, nada me agradou e eu nunca pra perceber o que estava na minha frente o tempo todo. Mês de Setembro é o auge da floração de uma das espécies da nossa flora que mais amo: Os Ipês.
Como pode árvores tão majestosas florirem, enfeitar-se em meio a um dos períodos mais quentes e sofridos do nosso Piauí? Não sei explicar, os Ipês alegram-se em fazer as coisas ao contrário. As outras árvores fazem o que é normal - abrem-se para o amor na primavera, quando o clima é ameno. O Ipê nos deslumbra justo quando o nosso calor escaldante resolve aparecer, e a sua copa florida é uma despudorada e triunfante exaltação do poder da fertilidade. Acho que só a força da nossa Mãe mesmo pra permitir algo assim.
Existem muitas espécies de Ipês, na verdade um complexo de nove ou dez espécies com características mais ou menos semelhantes, com flores brancas, amarelas ou roxas. Mas os amarelos me fascinam pela ousadia da beleza, do seu contraste com o céu azul... é "Como aconteceu com Moisés, que pastoreava os rebanhos do sogro, e viu um arbusto pegando fogo, sem se consumir. Ao se aproximar para ver melhor, ouviu uma voz que dizia: “Tira as sandálias dos teus pés, pois a terra em que pisas é santa”. Acho que não foi sarça ardente. Deve ter sido um Ipê florido." sinto da mesma forma.
A natureza é sagrada pra mim e nos ensina sobre a vida a todo momento. E os ipês são a mais genuína forma de nos mostrar que mesmo onde a gente imagina não existir saída ou solução para os momentos secos e tristes da nossa caminhada, elas sempre estarão lá, basta que tiremos a venda dos olhos para que enxerguemos as simples maravilhas que sempre nos acolhem.
E eu meio que me inspirei nessas belezas e pedi permissão pra intitular nosso espaço aqui com o nome do ensolarado Ipê Amarelo. Porque é isso que quero: esperança sempre em dias melhores!
Partilho com vocês o que nosso querido escritor Rubem Alves escreveu em um artigo sobre o fascínio que ele também tem pelos Ipês e espero que nesse nosso B.R.O.BRÓ no clima e nos sentimentos a gente possa superar as dificuldades.
"Agora são os ipês rosa. Depois virão os amarelos. Por fim, os brancos.
Cada um dizendo uma coisa diferente. Três partes de uma brincadeira musical, que certamente teria sido composta por Vivaldi ou Mozart, se tivessem vivido aqui.
Primeiro movimento, “Ipê Rosa”, andante tranquilo, como o coral de Bach que descreve as ovelhas pastando. Ouve-se o som rural do órgão.
Segundo movimento, “Ipê Amarelo”, rondo vivace, em que os metais, cores parecidas com as do ipê, fazem soar a exuberância da vida.
Terceiro movimento, “Ipê Branco”, moderato, em que os violoncelos falam de paz e esperança.
Penso que os ipês são uma metáfora do que poderíamos ser. Seria bom se pudéssemos nos abrir para o amor no inverno...
Corra o risco de ser considerado louco: vá visitar os ipês. E diga-lhes que eles tornam o seu mundo mais belo. Eles nem o ouvirão e não responderão. Estão muito ocupados com o tempo de amar, que é tão curto. Quem sabe acontecerá com você o que aconteceu com Moisés, e sentirá que ali resplandece a glória divina... (Tempus Fugit, pág. 12)."
Obrigada à todos pela companhia! : )